Home / Blog / 9 coisas que aprendi em 10 anos de farialimer

9 coisas que aprendi em 10 anos de farialimer

Eu não uso coletinho acolchoado, ainda que já tenham mandado alguns de presente pra minha casa. Também não aderi ao copo Stanley, mas reconheço o valor, talvez seja questão de tempo. Camisa azul com iniciais do meu nome ou saia lápis não fazem parte do meu guarda-roupa. E não tenho coordenação motora suficiente pra andar de patinete elétrico – infelizmente, deve ser divertido.

Você provavelmente não perceberia se me visse no supermercado, mas talvez o fato de passar várias horas da minha semana na região – e ter instalado aqui minha casa de análise – faça de mim uma farialimer (longe do estereótipo, que fique claro!).

Se você não entendeu nada até aqui, explico: é chamado de farialimer quem trabalha nas imediações da Avenida Faria Lima, na região do Itaim, o coração do mercado financeiro paulista. Só que em geral isso vem carregado de ironia, dados os hábitos dessa curiosa comunidade.

Não posso negar, porque há provas. Difícil encontrar um edifício corporativo por essas bandas que não tenha minha foto e meu RG na recepção. À pergunta “Tem cadastro?”, respondo quase sempre: “Sim.” Dia desses confundi a data de um evento de um grande banco e só percebi quando começou a reunião da sala em que me sentei – pra qual não tinha sido convidada.

Já consigo fazer um guia gastronômico da região. Muita informação valiosa já caiu no meu colo em meio a água com gás e limão espremido. Eles chamam de networking, meeting… eu prefiro cafezinho.

Hoje caminhando pela região confesso que sinto uma pontinha de orgulho. Eu, menina do interior de Minas. A Faria Lima não me intimida como no começo, a não ser pelos ladrões de celular. Sinto como se tivesse decifrado seus principais códigos.

Vou compartilhar alguns abaixo. Pode ajudar ao lidar com seu farialimer favorito – ou aprendiz de – como o gerente do banco ou assessor da corretora:

  1. Prefira a verdade dura à mentira reconfortante
    Os bons moços de coletinho – aqueles que defendem veementemente pra você que o banco e a corretora estão focados em clientes – são os piores. Aprendi a me conectar com os que são capazes de autocrítica, os que falam a verdade, por mais que ela choque. Gosto dos que dizem: “Isso aí é ruim mesmo, eu preciso fazer dinheiro, não sou santo, Lu, mas dá uma olhada nesse outro”.
  1. Entenda que não existe corretora ou banco bom – nem ruim
    Ninguém sobrevive na Faria Lima vendendo só produto ruim. Nas prateleiras convivem investimentos de qualidade diferentes. Os melhores dificilmente chegam pra você por e-mail, whatsapp, nem aparecem nas listas “em alta”, “em destaque” ou “favoritos” do aplicativo. Eles ficam um pouco mais escondidos, mas estão lá.
  1. Farialimers são pragmáticos, fale a língua deles
    É óbvio que o mercado financeiro atrai pessoas gananciosas. Agora, com todo respeito, pense no parasita: ele prejudica o hospedeiro, mas não quer matá-lo. Se você mostrar pro seu farialimer favorito que não topa qualquer porcaria, ele vai mostrar a porcaria menos ruim. E, se você recusá-la também, aí ele vai entender que pode perder você – e vai abrir seu melhor cardápio de opções de investimento. Aí vai ficar divertido.
  1. Aprenda a perguntar
    Não tenha medo de dizer: “Não, pera aí, não entendi. Explica melhor”. Se estiver falando com alguém inteligente, você vai ganhar uma aula. Se não, seu interlocutor vai se atrapalhar, talvez trate você mal. Aí o sinal é claro: melhor fugir.
  1. Jamais se intimide
    As pessoas mais inteligentes do mercado financeiro são gentis. A arrogância esconde insegurança. Fuja também.
  1. Os farialimers são mais sensíveis à imagem do que parece
    O mercado financeiro tudo vê. Uma das coisas que percebi (atônita) ao liderar uma comunidade volumosa de investidores é que ela tem poder. Críticas bem fundamentadas, quando apoiadas por um grupo relevante, chegam aos altos executivos dos bancos, corretoras e gestoras. E com frequência destravam melhorias ou evitam que uma prática ruim se multiplique. A Faria Lima sabe que ter uma marca forte e crível importa.
  1. Os farialimers são MUITO sensíveis a dinheiro
    Enquanto você continuar deixando uma grana no fundo DI caro do banco, ele jamais vai colocar à venda aquele produto barato que só está disponível no private banking. Agora, veja as corretoras, que precisam batalhar pra tirar dinheiro do Bradescão: lá tem fundo igual, ou até melhor, com taxa zero. O mercado financeiro está atento à sua demanda, desde que mexa com o bolso deles.
  1. “Follow the money” não é só uma frase de filme
    Se você quer saber onde está o foco de um farialimer, siga o dinheiro: descubra quem paga o salário dele. Em geral ele trabalha pra um banco ou uma corretora. Um mundo novo se abriu pra mim quando descobri os family offices, também conhecidos como “gestores de fortunas”, que investem dinheiro de famílias com algumas dezenas de milhões de patrimônio. Os independentes de verdade são focados em clientes porque só ganham deles – se recusam a serem comissionados por produto. Foi onde eu me inspirei pra construir o modelo de negócio da Indê, trabalhando, é claro, pra que ele seja acessível não somente a milionários.
  1. Lute por respeito, não por amor
    Nunca abaixei a cabeça pro mercado financeiro. Pelo contrário: sempre apontei aos quatro ventos, sem poupar nomes, produtos e práticas ruins. Não é por capricho, entenda, mas porque escolhi falar com muitos investidores ao mesmo tempo. É claro que isso me rendeu alguns desentendimentos pesados ao longo desses dez anos. Nenhuma porta se fechou entretanto. Na verdade, muitas se abriram: hoje sou bem recebida pelas pessoas mais inteligentes do mercado. O cérebro do farialimer é, com frequência, maior do que o coração. Lembre-se disso ao interagir com ele.

Aplica e depois me conta se a Faria Lima não se tornou um ambiente muito mais interessante?

Um abraço,
Luciana Seabra.

Fique por Dentro das Melhores Oportunidades

Dicas valiosas e certeiros para você tomar decisões financeiras com mais confiança.