Como irmã mais nova e prima de uma vasta família, um conceito que me atormentou desde a tenra infância foi o de café com leite. Eu aparecia pra brincar de esconde esconde ou totó e alguém logo gritava: “A Lu é café com leite!”.
Em bom português: aos olhos dos outros jogadores, eu não tinha a menor chance de ganhar. Qualquer coisa que eu fizesse não contava pontuação e todos deviam pegar leve comigo.
Crescer e passar de café com leite a uma oponente real tornou-se um objetivo. Desafiando o senso comum, eu buscava esconderijos mirabolantes e me atentava às estratégias dos mais experientes no futebol de mesa. Hoje costumo dizer que sou campeã mundial de totó – ou pebolim para os paulistas (é um exagero, aqui entre nós, mas jogo direitinho).
Se entrar no jogo com a alcunha de “café com leite” também te incomoda, tenho uma coisa pra te contar: tem muito profissional de investimentos que trata você assim, como quem não tem a menor chance de ganhar. Ao olhar deles, qualquer coisa que você fizer é melhor do que nada.
Talvez você já tenha ouvido dizer, por exemplo, que a dupla de megainvestidores Warren Buffett e Charlie Munger defende a gestão passiva, ou seja, que você invista somente por meio de ETFs, fundos que replicam índices de mercado – uma grande cesta de ativos sem um filtro crítico e, por isso, barata.
O curioso é que quem repete isso nem pensa que os próprios Buffett e Munger estão entre as pessoas que mais ganharam dinheiro no mundo fazendo o exato oposto: gestão ativa.
Em vez de investir replicando índices, a famosa dupla passou a vida selecionando as melhores empresas da Bolsa e comprando na hora que a multidão fazia exatamente o contrário.
Eles superaram as médias de mercado consistentemente repetindo esse método, resumido como “margem de segurança“: uma diferença favorável entre o preço do ativo e seu valor real. Em resumo, comprar por R$ 10 algo que você sabe que vale R$ 15.
Eles mentiram pra você na defesa da gestão passiva? Não. Eles foram extremamente honestos – considero, porém, que muitas vezes mal interpretados.
Veja bem o que diz Munger, conforme o livro “Charlie Munger: O Investidor Completo” (atenção aos meus destaques em letras maiúsculas):
“Nossa receita padrão PARA O INVESTIDOR QUE NÃO SABE NADA com um horizonte de longo prazo é um fundo de índice sem encargos”.
O termo, na versão em inglês, pro trecho destacado acima é “know-nothing investor“. Eu bem poderia traduzir como “investidor café com leite” – aquele que já é visto como derrotado na largada.
Fico impressionada com o fato de ter gente que ainda estuda os dois e conclui que eles não acreditam em gestão ativa – ora, mas é assim que eles ganham dinheiro.
Preciso dizer aqui que a abordagem também me incomoda de outro ponto de vista: em vez de sugerir que as pessoas se contentem com a média, Buffett e Munger poderiam propor que pesquisassem bons gestores ativos, como eles próprios. Isso está longe de ser impossível.
Ao investir nas ações da Berkshire Hathaway, por exemplo, conglomerado de empresas de Buffett, acessíveis na Bolsa até hoje, as pessoas poderiam participar desse ganho acima da média.
Defender que você é café com leite é te defender ou te menosprezar?
Por que guardar pra Faria Lima e pra Wall Street os ganhos acima da média? Sendo que eles próprios sabem que, sim, é possível obtê-los.
O histórico quantitativo e qualitativo de bons gestores ativos está disponível – por que não colar neles? Ou seja, por que não investir em uma boa seleção de fundos ativos em vez de se contentar com a média entregue pelos passivos?
Em mercados mais eficientes, como o americano, e com índices mais diversificados, restringir-se aos passivos até pode ser razoável. Agora, nos mais ineficientes e com índices muito concentrados em poucos setores – como o nosso – isso pode significar deixar dinheiro na mesa no longo prazo.
Fora que muitas vezes essa abordagem desconsidera que um portfólio diversificado deve ir muito além de comprar uma cesta de ações e uma de títulos públicos – os ativos mais acessíveis em versões indexadas.
Imagine ir ao médico com enxaqueca e ele dizer a você que existem tratamentos com resultados acima da média, mas que, pra você “QUE NÃO SABE NADA” de Medicina, a “RECEITA PADRÃO” é entrar em um quarto escuro e dormir. Isso porque, na média, as pessoas ignorantes têm bons resultados assim.
Na área da saúde, quem pode pagar por isso escolhe um bom médico e segue sua prescrição. Por que não fazer a mesma coisa no universo dos investimentos, em vez de se contentar em ser café com leite?
Talvez seja necessário destacar aqui que esse médico não pode ser comissionado pela farmacêutica. Parece óbvio, mas, no universo dos investimentos, a maioria das pessoas confia nas indicações de quem trabalha pra corretora ou banco e ganha uma comissão diferente dependendo do que indica. Aí está o erro, não na gestão ativa.
Por que se conformar com ser taxado como o “que não sabe nada”? Esse selo parte da sensação de William Bernstein, citada no mesmo livro, de que “infelizmente a maioria das pessoas gosta de finanças tanto quanto de um tratamento de canal“. Se você está lendo esta newsletter – ou o livro de Munger – dificilmente é essa pessoa. Ou seja, a mensagem não é pra você.
E digo mais: mesmo quem vê finanças como um tratamento de canal deveria se esforçar ao menos um pouco pra se aproximar desse universo, dada a importância pra um futuro financeiro tranquilo. E estou certa de que vale mais um pequeno esforço agora do que ficar dependente de alguém até pra pagar seu café com leite lá na frente.
Sim, há um caminho em que sua capacidade de aprender é respeitada. E no qual você pode ter sim retornos acima da média no longo prazo.
Eu acredito muito nisso. Se você também, te espero hoje às 19h30 pra uma aula gratuita aqui em que vou apresentar o método de investimentos que quem faz dinheiro no mercado realmente segue – e não a solução medíocre que eles recomendam pra quem é café com leite. Já vai lá e ativa o alerta.
Espero você à noite ao vivo. Bora colocar canela nesse café com leite ?
Um abraço,
Luciana Seabra.
PS: Se você já segue o método que aprendeu comigo, essa é a oportunidade de revisar os fundamentos ou ajudar aqueles amigos e parentes que se conformaram até aqui com ser medíocres nos investimentos. Encaminhe pra eles esta newsletter e convide pra aula gratuita de hoje à noite aqui.
Luciana Seabra