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Tardia, cara e deselegante

Dia desses ouvi que o alocador de um grande banco reduziu a 5% a fatia em Bolsa recomendada a seus clientes pouco antes da recuperação recente.

Nada contra quem acha que deve ter só 5% em Bolsa como alocação estrutural – ainda que eu considere muito pouco pra um investimento de longo prazo. Tudo contra um profissional que recomenda mais do que isso e reduz drasticamente no pior momento, causando perdas definitivas de capital pros seus clientes.

Eu só consigo me lembrar da belíssima bronca de David Swensen, a maior referência do mundo em alocação de investimentos, ao tratar de investidores profissionais que reduziram a alocação de risco em meio a uma crise. Eles descobriram no pior momento que tinham exagerado na dose? Então, ataca, eles deram uma “resposta tardia, cara e deselegante ao risco excessivo dos portfólios”.

Quase R$ 50 bilhões deixaram os fundos de ações nos últimos 12 meses segundo os dados da Anbima, associação que representa o mercado.

E não me venha culpar a pessoa física, que não tem paciência e sempre sai na pior hora – como ouço por aí. Meus clientes compartilharam comigo os incentivos dos bancos e corretoras pra, em meio à queda, trocar os investimentos de risco que eles próprios tinham oferecido.

“Não tem gatilho pra uma recuperação da Bolsa e é impossível superar um CDI de dois dígitos, melhor resgatar e trocar por isso aqui” – disseram pra você, apontando pra um ativo de renda fixa ou de capital garantido que pagava muito mais (pra eles, não pra você). Foi ou não foi?

Mais uma vez os mercados se mostraram cíclicos – oh, que surpresa! O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira sobe 15% no ano até aqui, contra 5% do CDI.

Vários bons fundos de ações vão além da média do mercado e já ultrapassam 25% de ganho só até maio. Não, não são casos isolados. Dentre os meus recomendados aqui, vejo 8 – todos eles com mais resgates do que aportes nos últimos 12 meses.

Ou seja, muita gente saiu antes da recuperação – mais uma vez, infelizmente.

Isso não diz nada sobre o futuro, ainda que muitos gestores de ações com os quais tenho conversado digam que ainda há ações muito baratas na Bolsa pra quem tem paciência.

Isso diz tudo sobre o tanto que o despreparo e os conflitos de quem atende a pessoa física na hora de investir têm o potencial de destruir patrimônio.

Não era uma obrigação da pessoa física entender que a Bolsa pode passar por períodos de prejuízo nem que, no Brasil, quando a recuperação vem o movimento pode ser muito forte.

Era sim, entretanto, o dever de profissionais que as incentivaram a entrar na Bolsa, defender os prazos corretos de investimento desde a largada e sustentar também que tivessem paciência nas horas difíceis. Durmo em paz porque fiz isso.

Todo profissional de investimentos que se preze deve estudar sobre construção de portfólio, a começar pelos ensinamentos de Swensen, que foi diretor de investimentos da Universidade Yale por 35 anos, garantindo o crescimento do fundo da instituição de US$ 1 bilhão pra US$ 30 bilhões, tornando seu “Yale Model” mundialmente conhecido.

Além de chamar alocadores que não seguem a própria alocação estrutural de deselegantes, Swensen ensina que, na falta de razões fundamentais pra mudar as alocações do gestor, podem-se esperar resultados positivos a partir da adoção da seguinte estratégia: “sacar o dinheiro dos gestores que acabaram de apresentar bons desempenhos e dar dinheiro àqueles com números mais fracos”.

E continua: “O comportamento contrário é a alma de muitas estratégias de investimento bem-sucedidas. Pra azar dos investidores, a natureza humana anseia pelo reforço positivo de correr junto com a multidão”.

E mais: “O comportamento contrário nos investimentos exige afastar-se dos amados e abraçar os rejeitados. A maioria prefere o oposto”.

Discípula de Swensen que sou, felizmente tenho a consciência tranquila de que mantive a alocação estrutural em fundos de ações bem selecionados em 30%, mesmo em meio a um ciclo duríssimo. E de que os clientes que me ouviram colheram a recuperação desse começo de ano – ela não é linear, haverá solavancos no caminho.

Tardia, cara e deselegante

Dia desses ouvi que o alocador de um grande banco reduziu a 5% a fatia em Bolsa recomendada a seus clientes pouco antes da recuperação recente.

Nada contra quem acha que deve ter só 5% em Bolsa como alocação estrutural – ainda que eu considere muito pouco pra um investimento de longo prazo. Tudo contra um profissional que recomenda mais do que isso e reduz drasticamente no pior momento, causando perdas definitivas de capital pros seus clientes.

Eu só consigo me lembrar da belíssima bronca de David Swensen, a maior referência do mundo em alocação de investimentos, ao tratar de investidores profissionais que reduziram a alocação de risco em meio a uma crise. Eles descobriram no pior momento que tinham exagerado na dose? Então, ataca, eles deram uma “resposta tardia, cara e deselegante ao risco excessivo dos portfólios”.

Quase R$ 50 bilhões deixaram os fundos de ações nos últimos 12 meses segundo os dados da Anbima, associação que representa o mercado.

E não me venha culpar a pessoa física, que não tem paciência e sempre sai na pior hora – como ouço por aí. Meus clientes compartilharam comigo os incentivos dos bancos e corretoras pra, em meio à queda, trocar os investimentos de risco que eles próprios tinham oferecido.

“Não tem gatilho pra uma recuperação da Bolsa e é impossível superar um CDI de dois dígitos, melhor resgatar e trocar por isso aqui” – disseram pra você, apontando pra um ativo de renda fixa ou de capital garantido que pagava muito mais (pra eles, não pra você). Foi ou não foi?

Mais uma vez os mercados se mostraram cíclicos – oh, que surpresa! O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira sobe 15% no ano até aqui, contra 5% do CDI.

Vários bons fundos de ações vão além da média do mercado e já ultrapassam 25% de ganho só até maio. Não, não são casos isolados. Dentre os meus recomendados aqui, vejo 8 – todos eles com mais resgates do que aportes nos últimos 12 meses.

Ou seja, muita gente saiu antes da recuperação – mais uma vez, infelizmente.

Isso não diz nada sobre o futuro, ainda que muitos gestores de ações com os quais tenho conversado digam que ainda há ações muito baratas na Bolsa pra quem tem paciência.

Isso diz tudo sobre o tanto que o despreparo e os conflitos de quem atende a pessoa física na hora de investir têm o potencial de destruir patrimônio.

Não era uma obrigação da pessoa física entender que a Bolsa pode passar por períodos de prejuízo nem que, no Brasil, quando a recuperação vem o movimento pode ser muito forte.

Era sim, entretanto, o dever de profissionais que as incentivaram a entrar na Bolsa, defender os prazos corretos de investimento desde a largada e sustentar também que tivessem paciência nas horas difíceis. Durmo em paz porque fiz isso.

Todo profissional de investimentos que se preze deve estudar sobre construção de portfólio, a começar pelos ensinamentos de Swensen, que foi diretor de investimentos da Universidade Yale por 35 anos, garantindo o crescimento do fundo da instituição de US$ 1 bilhão pra US$ 30 bilhões, tornando seu “Yale Model” mundialmente conhecido.

Além de chamar alocadores que não seguem a própria alocação estrutural de deselegantes, Swensen ensina que, na falta de razões fundamentais pra mudar as alocações do gestor, podem-se esperar resultados positivos a partir da adoção da seguinte estratégia: “sacar o dinheiro dos gestores que acabaram de apresentar bons desempenhos e dar dinheiro àqueles com números mais fracos”.

E continua: “O comportamento contrário é a alma de muitas estratégias de investimento bem-sucedidas. Pra azar dos investidores, a natureza humana anseia pelo reforço positivo de correr junto com a multidão”.

E mais: “O comportamento contrário nos investimentos exige afastar-se dos amados e abraçar os rejeitados. A maioria prefere o oposto”.

Discípula de Swensen que sou, felizmente tenho a consciência tranquila de que mantive a alocação estrutural em fundos de ações bem selecionados em 30%, mesmo em meio a um ciclo duríssimo. E de que os clientes que me ouviram colheram a recuperação desse começo de ano – ela não é linear, haverá solavancos no caminho.

De uma coisa, entretanto, já temos certeza: ter cedido ao desespero no fim do ano e reduzido a fatia a 5% teria sido uma péssima ideia.

Fica o aprendizado de que a construção de patrimônio feita do jeito certo é lenta e suada mesmo, até que o prêmio vem, recompensando os pacientes. A pressa pra se movimentar com frequência joga contra você.

Ou, como diria Martinho da Vila, em um dos melhores shows da minha vida, que tive o prazer de presenciar no último sábado: “É devagar, é devagar, é devagar, é devagar, devagarinho…”.

Um abraço,

Luciana Seabra.

PS: Isso aqui é pra quem já entendeu que investir não é sobre correr junto com a multidão.

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