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Tem dinheiro no sapato aí?

“– Por que escondeu dinheiro de mim?
– Eu não estava escondendo. Só guardei em um lugar seguro, caso algo acontecesse…
– Julius, você trabalha muito. E mal conseguimos pagar as contas. Deus me livre de algo acontecer com você. Um caminhão dos Correios pode bater em você. Ou um caminhão de gás. Você pode ser atropelado por um carro, ficar com pressão alta, pegar uma gripe, gota, pneumonia, escoliose, escorbuto, pode cair de um prédio, tropeçar na escada rolante, ser atacado, esfaqueado. Você pode pegar EM, ELA, PHC, CCBD…
– O que é isso?
– Não sei, mas parece que isso poderia matar você. Ah, querido, eu só queria ter uma reserva pra uma emergência…
– Só isso?
– É.
– Aqui. Pegue seu dinheiro. Guarde-o. Me desculpa”.

O trecho acima faz parte de uma série que eu amava assistir quando era mais jovem – e que tenho visto pra desligar um pouco o cérebro agora que entrou no Prime Vídeo. Chama-se “Todo mundo odeia o Chris” e é uma garantia de boas risadas, já viu?

Nesse episódio, Julius, que mantém dois empregos pra sustentar a família, encontra um bolo de dinheiro dentro do sapato da esposa, no armário dela. Essa cena parece tão inocente, mas guarda tantos tabus sobre dinheiro…

Aquela cena me transportou diretamente pra infância e eu dei início a um jogo dos 7 erros, que quero compartilhar com você hoje.

Tem dinheiro no sapato aí?

Erro 1. Achar que seu parceiro ter dinheiro guardado é uma traição
Ao se deparar com o bolo de dinheiro dentro do armário de Rochelle, Julius logo se põe a imaginar uma fuga da esposa. Ela na certa tinha planos de abandonar a família – pensa.

Muitas vezes, entretanto, a intenção é nobre: deixar o dinheiro fora de alcance é uma forma de não contar com ele no dia a dia. E isso pode ser muito valioso em um momento de crise. Na série, inclusive, Rochelle é apaixonada pela família.

Erro 2. Tomar a decisão de esconder dinheiro
Escondida ou não, o mais importante é ter uma reserva. Agora, ainda que não necessariamente mal intencionada, a decisão de ocultar uma reserva pode não ser a mais saudável pra relação. Que tal conversar sobre um modelo transparente que respeite a individualidade de desejos?

Tive a sorte de ter contato ainda muito jovem com o livro “Até que o dinheiro nos separe”, da psicóloga Cleide Bartholi. Especializada em terapia familiar, ela traz ali um modelo que observou gerar menos conflitos em consultório: o da proporcionalidade. Quem ganha mais paga uma parcela maior das despesas. E, o que considero mais valioso: o dinheiro que resta pode ser usado por cada um como quiser, sem ter que se justificar (ou esconder).

Erro 3. Pensar que uma reserva serve só pras tragédias
É claro que a série fez humor com a lista interminável de tragédias desenhada por Rochelle – enquanto Julius a olhava assustado. A verdade, entretanto, é que muita gente baseia a decisão de guardar dinheiro somente em medo. E aí não tem como a construção de patrimônio ser prazerosa. E por isso é tão adiada.

Eu gostaria que a Rochelle da vida real dissesse: “Julius, você trabalha muito. E mal conseguimos pagar as contas. E se um dia surgir uma oportunidade de Chris estudar no exterior, ou se decidirmos investir no nosso próprio negócio, ou se surgir a possibilidade de uma viagem incrível em família a preços módicos?”.

Erro 4. Acreditar que o sapato é um lugar seguro
Parece absurdo, mas ainda tem gente que guarda dinheiro em casa – ou deixa parado na conta corrente, que é quase igual. Ao tentar garantir segurança, Rochelle colocou o dinheiro em risco. Quem assistiu à série sabe que a vizinhança da família não era das mais seguras. Isso pra não falar dos riscos materiais não cobertos, como de uma enchente ou um incêndio.

Erro 5. Esquecer-se da corrosão do poder de compra
Bom lembrar ainda que dinheiro parado tem o poder de compra corroído pela inflação com o tempo. Os US$ 500 que Rochelle guardou no sapato na época compravam muito mais bens do que hoje, quando vi a reprise.

Erro 6. Atribuir ao pobre do dinheiro no sapato a responsabilidade de arcar com uma esposa e três filhos pequenos
No caso da família de Chris, a geração de renda depende somente do pai. É claro que Rochelle estava fazendo os melhores esforços – e isso tem muito valor!

Agora, do ponto de vista de planejamento financeiro, o que é recomendável pra uma pessoa com muitos dependentes? Previdência privada ou seguro de vida. Se você já tem um patrimônio acumulado, previdência. O dinheiro tem mais potencial de crescimento e é liberado rapidamente, sem passar por inventário, pros dependentes em caso de falecimento.

Se não tem muito dinheiro guardado, vale pensar em um seguro de vida. Como a seguradora pode atribuir um risco baixo de falecimento a um pai jovem, o seguro pode ser capaz de liberar um dinheiro relevante pros dependentes mesmo que não haja uma reserva significativa acumulada.

Erro 7. Ao saber que a esposa fez uma reserva de emergência, Julius pergunta: “Só isso?”
Pensar em reserva de emergência parece algo básico, mas é muito. Em situações inesperadas – como a pandemia do Covid ou as enchentes no Rio Grande do Sul – recebi muitas mensagens de famílias gratas por terem montado uma reserva de emergência. Por isso costumo dizer que ela salva vidas.

Sei que muita gente que me acompanha nesta newsletter já é avançado no mundo dos investimentos, mas todo dia chega gente nova, que ainda não sabe por onde começar – estou certa de que tem gente assim à sua volta também.

O ponto de partida é a reserva de emergência – ou caixa da Segurança, como preferimos chamar aqui. Ela deve ser de 3 a 12 vezes seu custo mensal. No caso de Julius, o mais alta possível, dado o número de dependentes financeiros.

Que tal perguntar a quem você ama hoje se já tem uma reserva de emergência (de preferência que não esteja dentro do sapato)?

Um abraço,
Luciana Seabra.

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